sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

09

fim de ano
quem diria...
é tempo de enfrentar suas feras
no doloroso balanço dos dias
estamos nos despedindo, a cada oi eu perco algo
estou demasiada triste pra me importar, e perco além.
ouço um zumbido estranho e choro escondida
estou sem paz

onde estariam agora teus beijos?
quão longe dos meus portos fico?
teu sussurro onde soa?

meu vício do teu peito
não é saúde
não minto, enlouqueço

perdi a fé por alguns dias
a falta dela é irremediável
eu morri, como um peixe, mais uma vez
e ninguém sentiu o cheiro do cadáver

putrefato cotidiano
há dores e náuses me parasitando
por mais que eu sorria

e lavo os labios com desinfetante

os ultimos gritos

pontas de cigarros... tem pontas de cigarros por todos os cantos
E o chão molhado das lagrimas dos outros, o inferno dos outros derretendo
e ruídos pela casa
a multidão se esbarra continuamente
rusgas, risos histéricos, sono, apertados num campo vazio
multidão interna, internada em azilos
procuro silencio
estou escondida, agachada no escuro
Estou escondida atrás do contentamento
e rio
falo alto
falo muito
e rio
como quem está em desespero

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Ananda

Pequenas pérolas são teus olhos
E tua força é das tempestades
Me deitei em teus braços
quando o mundo me afligia
e branda foi a brisa que saiu do teu abraço
Nada dissemos com palavras mortais
Mas teu silêncio foi ordem de calma
Antes eu tinha medo de ti, e medo por ti
Hoje sorrimos a alma quando nos encontramos
Amo-te rainha, como quem ama o infinito
Como quem ama o futuro incerto
Como quem ama a eternidade dos teus olhos
Amo-te sem saudades que o teu olhar trago guardado
e teu sorriso que acalanta minh´alma
visito antes que o sono me bate
Bem Aventurada a que eterniza aos que amo
Bem Aventurada é a nascente de teu rio
Muito amadas são tuas mãos pequenas
donde brota a tranqüilidade do que já foi decidido
Benditos os passos que darás em minha casa
Bendita bondade que teu rosto anuncia
Bem amada é a doce rainha, pequena, determinada
Alegres serão teus dias.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

pesadelo

me invade a cama madrugada adentro
não me vê os olhos nem a alma
come, dorme, vai embora
Meu peito parte em galope
pranteia ora mudo ora histérico
eu grito
eu grito e tremo
eu sofro
eu sofro e morro
eu vivo
Meu canto morre
eu vivo
morenando
em plena tormenta

terça-feira, 10 de novembro de 2009

vale o quanto ocupa

Quantos poemas uma madrugada abriga?
Quanta ausência cabe em um quilometro?
Quanto adormecer pode um beijo?
Quantos pêlos do outro minha saudade decora?
Quantas fotos minha retina alcança?
Quanto riso me faria inocente?
Quanto de mim faz uma muda?
Quanto dele constrói um destino?
Quanta amizade me tem um pássaro?
Quanto silêncio o amor suporta?
Quantas notas a lágrima atinge?
Quantas naus pra que meu sonho veleje?
Quanto de sol pra que a amante aurore?
Quanta displicencia coexiste num coito?
quanto de sexo remete o vento?
Quantas flores tem a cor da menina?
Quanto desespero invade um domingo?
Quantas laudas para um parto?
Quanto estrangeiro você se sente?
Quantas tentativas antecedem a estréia?
Quanta fé a dor anuncia?
Quanta morte meu além permite?
Quanta vida me resta hoje?

Quanta falta me faz um descanso...

Quanto vale, do seu tempo, meu canto?

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

...

eu menti quando disse que aceitava qualquer coisa
eu menti pra mim
Tem que ser tudo
tem que ser vivo
ter que ter fome
desespero
tem que ter sono
tem que ter volta
tem que ter mar
que eu quero desaguar minha mentira

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

sem drama

ok! sem drama
foco de luz num unico propósito
a construção de uma linha de trem
que parta da Glória à estação Liberdade
com intervalos de saída de 3 min

Sem Drama...
e sem comedia pública ou privada

só no light
TOPA?
EU VOU CAIR PRA DENTRO

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Como La Cigarra
Letra: María Helena Walsh

Tantas vezes me mataram
Tantas vezes me deixei morrer
Contudo estou aqui
Ressuscitando.

Agradeço à desgraça
E à mão com o punhal
Por ter me matado tão mal
E segui cantando.

Cantando ao sol como a cigarra
Após um ano sob a terra
Igual a um sobrevivente
Que volta da guerra.

Tantas vezes me apagaram
Tantas desapareci
Ao meu próprio enterro fui
Sozinha e chorando.

Dei um nó no lenço
Mas me lembrei em seguida
Que não era a única vez
E segui cantando.

Tantas vezes te mataram
Tantas ressuscitarás
Quantas noites passarás
Desesperando.

No momento do naufrágio
E da escuridão
Alguém te resgatará
Para ir cantando.

amiga minha

sinto dizer-te assim a verdade
amiga minha não se ofenda
desse tempo de ausência
nenhum instante pensei em ti com saudades
ah amiga minha
quanta festa sua falta me traz pra vida
quanto almejo esquecer-te

vejo que ainda conviveremos mal por mais um tempo
como se a minha única saída fosse resignar-me
você, amiga minha
traz os tempos de madrugadas
tristes e vazias madrugadas
de volta aos dias que nasciam solares

os dedos passam a perder a força
as coisas escorrem
o tempo corre frenético
os papéis se empilham até vetar meus olhos do horizonte

temor... óbvio

amiga minha... que estranho amor o nosso
que companheira me encontrou a vida
não é uma visão pessimista apenas
é a constatação de uma sequencia
que inicia nova repetição

Novo ciclo se anuncia
sem novidades ao que aparenta
vamos juntas amiga minha
desertar nossos sonhos
como o temos feito, juntas
todo esse tempo

recolho-me só para protelar
que a debandagem seja demasiado imediata
mas já não vejo em meu entorno
as tochas que iluminavam a festa
os ruídos se diluem
num silêncio sepulcral

hoje, amiga minha
já começo a me despedir dos sonhos
que frageis se despontavam
de encontro a um mundo de alegrias

já se foram as paixões
os amores provavelmente não sobreviverão
e tudo passa a ter o gosto
e o desespero da despedida
e eu sei que nós
não iremos a lugar algum
restaremos sós no salão vazio
enquanto um tango mareado
nos ilustra a solidão

terça-feira, 27 de outubro de 2009

pintura

queria fazer um desenho
que fosse assim sincero
que entedesse de harmonia
perspectiva, ponto de fuga
queria fazer uma pintura
que me desse a sensação de leveza
que me encantasse o olhar parado
que me deixasse um tempo calado
queria cantar uma voz
que soasse como choro de flauta
que me emocionasse como som de poesia
que me adormecesse como quem deita em nuvens

nem todas as expressões
nem feitas por seus gênios maiores
alcançariam com verdade
o retrato do homem que amo.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

reflexões

aprendi hoje. É o amor uma atitude política... (?) somos resistencia?
toda contravenção me encanta

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

o choro imenso de contentamento

fragmentos de PEÇO SILÊNCIO
de pablo neruda

Sucede que tanto vivi
que quero viver outro tanto.
Nunca me senti tão sonoro,
nunca tive tantos beijos.
Agora, como sempre, é cedo.
Voa a luz com suas abelhas.
Me deixem só com o dia.
Peço licença para nascer.

domingo, 6 de setembro de 2009

DOS ANTIGOS II

RESPEITO

respeitem meus poucos cabelos brancos
são neles que eu conto o tempo

respeitem meu compasso ralentado
os meus dias não duram o mesmo que os teus

respeitem a minha voz
ela é a única que me cala por dentro

respeitem a marca d meu sorriso
e o desenho do meu choro
talhados no rosto antigo
cada riso anunciou um grito
e cada lagrima germinou meu solo

Respeitem meu mal-estar
sou prisioneira dele, não convidada

Dês-respeitem meus versos
e me provem se há outro modo de vida

DOS ANTIGOS

cansaço

ando cansada de mim
cansada dos meus marejados olhos
da tristeza melancólica que envolve meus sonhos

Ando cansada da urgência
de que descende meus atrasos
e da estagnação que os gera

Ando cansada da falta de simplicidade
e das angustias em minha cozinha
e das cortinas da alma

Ando cansada das manhãs
e das noites curtas
e dos papéis grafados
e dos desejos abortados

Ando cansada
Mas sigo

terça-feira, 25 de agosto de 2009

receita de encontro

Um terço do teu silêncio
Duas pitadas de ansiedade
Quatro domingos de chuva
A sós e sem relógios
Meia medida de lucidez
Dias de saudade sem pressa
Polvilhe perfumes e sons importados
Dois nacos de cuidado mútuo
Alguns planos
Afinidades a gosto
Duas taças de vinho branco
seis gotas de essencia floral
oleo de girassol para dourar

Misture os fluidos em um tatame
Bata o desejo em neve, em ponto de suspiro
Descarte as dúvidas
Deixe descansar sob olhar despretensioso
e aguarde mil anos em meia hora
até que esteja macia
Guarde um quarto da receita como liga
Acrescente, por fim, uma musica tema
Dois poemas de Drummond
Um haikai do leminsk
E plante aos pés de uma amendoeira

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

minha arrogancia me assombra

sexta-feira, 5 de junho de 2009

se o poeta sucumbe a urgencia...
morre a poesia?

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Lançar-se

pretendo enlouquecer nessa noite.
Alguém me acompanha?
Alguém?
Nunca entendi para que tanto medo da loucura
É a sanidade quem assusta
O resto é estar livre...
Oras, não tenham medo
Vamos todos, nus pelas avenidas, madrugada a dentro
Tragam suas fitas em metros
Vamos colorir os céus das cidades
Vamos beijar-mo-nos
Em uníssono
Ejaculemos...
Como o foi o principio
Tragam também seus balões de ar,
Talvez precisemos voar, nunca se sabe
Há que se prevenir, mesmo em loucuras
Homens de terno e almas tesas não serão aceitas
Sim, até mesmo às insanidades é necessário alguma seleção
Desprendam do chão todos os carrosséis que virem pela frente
Amanhã eles serão promovidos
A gigantes rodas horizontais...
Seremos enfim, todos gigantes
E todos cartomantes lendo o próprio destino
ao fim da tarde, queimaremos as cartas
deitados nas praças publicas
e fecharemos os olhos
e num piscar
enfim
morreremos em paz




[1] 16/02/2009

domingo, 15 de fevereiro de 2009

carta de recomendação

Carta de recomendação:
Bom, comecemos, desta vez, pelo principio
Façamos uma lista e tracemos paralelos
Quantos anos tem sua alma?
E por quanto tempo precisa morrer para se ressuscitar?
Não, não é inútil. É mister!
Qual o tamanho do pote? Em ouro ou mágoa?
E o tamanho da fome? De vida ou de desfiladeiro?
Há testamento?
Não. Não uso armas brancas. Só roupas
Sou filha do escuro, não me calo
Tons bemóis ou pastéis?
Ah, claro! Cores... ? azul. Claro. Azul claro
Sim, mantenho lacunas
para que sejam preenchidas
Cartas? De recomendação, de despedida, de amores mortos?
As envia ou guarda?
Quantas são suas estradas?
E teus livros, lidos?
Toma, veste essas lentes:
Terra à vista?
Aporto. E enraízo
Bebe alguma coisa? Parece que a noite não será tão curta quanto pretendíamos
Mas você não precisa ficar, se não quiser
Eu aceito um café, por favor.
Se pretende dizer algo, melhor agora.
É da ansiedade dos mortos a pressa dos vivos
Prefiro a loucura
Sua lucidez é também solitária?
Casado? Filhos? Memórias? Medos?
Quantos?
Horas?
...
falta muito para amanhã
morreremos hoje, de certo
É, parece que não traçamos muitos pontos em comum
Talvez tenhamos nos enganado
Ou precipitado
Talvez seja melhor pegarmos carona separados
Ou em lados distintos da estrada
Quer que eu lhe arranje um mapa?
Posso anotar, no verso, meu endereço.
Minha memória é tão fraca...
Você pode desenhar seu rosto nesse papel?
Assim não esquecerei de todo.
Saudade é um tempo após a mágoa
Desejo é pressa no ventre da alma.
Se me lembrar, lhe enviarei pelo correio
Só as de alegria, certo?
Se é assim que prefere, talvez demore
Não tem tido a mesma fartura
nas colheitas de ultimamente
Sim, mas tudo vai muito bem,
contentamento é o que menos vende
e o comercio vem enriquecendo a família.
Emergentes pela procura do mercado!
Bom, fatalidades, que as pode conter?
de qualquer modo terá sido um prazer
depois que adormecermos.
Mande recomendações aos teus
diga-lhes que guardo afeto contíguo
E quando nos virmos novamente,
oxalá que não tão breve,
que não nos reconheçamos
para podermos, se for viável,
recomeçarmos o questionamento.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

espécie de velhice

(me disseram: toda saudade é uma espécie de velhice, como se o obedecer do amor não fosse sempre o contrário... e assim eu me senti)

Estou velho
e sou um homem cansado
Há tantas coisas que não posso entender
e que talvez as entenderia se tivesse a alma jovem
Mas sou um homem velho
e me sinto, de fato, cansado
Soube ontem o que me fez
perder a juventude em ímpeto
como um lançar-se aos leões
inconseqüente
Como se sobre a biga
que horizontal corresse
enquanto dançassem ao lado fadas
e eu as olhasse, ignorando o precipício a frente
como se o obedecer da trilha
não fosse o chão de pedras astrais
e assim displicentemente
avante seguisse
e em eterno instante
caísse
e morresse voando...
como os pássaros
e continuasse vivo
como os velhos
Me sento na varanda
no fim da tarde, com meu cigarro
e descanso vazio
Uma trégua à loucura
alimento à saudade
feliz
envelheço

domingo, 11 de janeiro de 2009

PLATÔNICO

Ele habita as minhas idéias
tem cheiro de juventude
o ideal
O corpo - Magro
moreno
A negra íris amplifica seu brilho pelos cílios alongados
Essencialmente contingente
airoso... alado
sua arte pedrês de linhas onduladas
pende das asas ansiosas
A rabugice é ancestral
seu pai é o mais velho de todos
Os cachos molduravam a boca sedenta
quando a imagem se grafava na minha pele
Pedi que me pintasse de carmim
doce, cedeu
O corte no tempo gentilmente transcorreu lento
e o frio do mundo se aqueceu no seu sopro
Não era um deus - era HOMEM
Não eram poderes, eram truques
Não creio de todo que ele existiu
Mas afirmo :
Hoje...
Ele habita as minhas idéias"