domingo, 15 de fevereiro de 2009

carta de recomendação

Carta de recomendação:
Bom, comecemos, desta vez, pelo principio
Façamos uma lista e tracemos paralelos
Quantos anos tem sua alma?
E por quanto tempo precisa morrer para se ressuscitar?
Não, não é inútil. É mister!
Qual o tamanho do pote? Em ouro ou mágoa?
E o tamanho da fome? De vida ou de desfiladeiro?
Há testamento?
Não. Não uso armas brancas. Só roupas
Sou filha do escuro, não me calo
Tons bemóis ou pastéis?
Ah, claro! Cores... ? azul. Claro. Azul claro
Sim, mantenho lacunas
para que sejam preenchidas
Cartas? De recomendação, de despedida, de amores mortos?
As envia ou guarda?
Quantas são suas estradas?
E teus livros, lidos?
Toma, veste essas lentes:
Terra à vista?
Aporto. E enraízo
Bebe alguma coisa? Parece que a noite não será tão curta quanto pretendíamos
Mas você não precisa ficar, se não quiser
Eu aceito um café, por favor.
Se pretende dizer algo, melhor agora.
É da ansiedade dos mortos a pressa dos vivos
Prefiro a loucura
Sua lucidez é também solitária?
Casado? Filhos? Memórias? Medos?
Quantos?
Horas?
...
falta muito para amanhã
morreremos hoje, de certo
É, parece que não traçamos muitos pontos em comum
Talvez tenhamos nos enganado
Ou precipitado
Talvez seja melhor pegarmos carona separados
Ou em lados distintos da estrada
Quer que eu lhe arranje um mapa?
Posso anotar, no verso, meu endereço.
Minha memória é tão fraca...
Você pode desenhar seu rosto nesse papel?
Assim não esquecerei de todo.
Saudade é um tempo após a mágoa
Desejo é pressa no ventre da alma.
Se me lembrar, lhe enviarei pelo correio
Só as de alegria, certo?
Se é assim que prefere, talvez demore
Não tem tido a mesma fartura
nas colheitas de ultimamente
Sim, mas tudo vai muito bem,
contentamento é o que menos vende
e o comercio vem enriquecendo a família.
Emergentes pela procura do mercado!
Bom, fatalidades, que as pode conter?
de qualquer modo terá sido um prazer
depois que adormecermos.
Mande recomendações aos teus
diga-lhes que guardo afeto contíguo
E quando nos virmos novamente,
oxalá que não tão breve,
que não nos reconheçamos
para podermos, se for viável,
recomeçarmos o questionamento.

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