sábado, 2 de fevereiro de 2013


Todo grande amor

Em urgência

Morre prematuro


Todo amor que morre

Tem no céu seu funeral

Velado pelos anjos

 

 

Aos que morrem de morte natural

De idade, que adormecem pra não mais acordar

Os que morrem em amizade

Sufocando os desejos em preces

Os que morrem de cotidiano

De dentistas, analistas,

Armários em comum

Fendas nas camas de casal

 

Aos que morrem em desespero

De ofensas infundadas

De berros e murros

De vinganças em sangue

De ciúme, de posse

 

Aos que morrem por destino

Os que viveram por teimosia

Os que sempre se souberam perdidos

Os que tiveram em comum

Não a estrada, mas curta parada

 

A todos os amores mortos

Que no dia de seu desencarno

Se faça um instante de piedade

 

Quando morre um amor

O poeta se lembra que está vivo
 
E que ainda ha de criar

 

amor amor


Amor amor

O que farei para que não sumas

Feito as nuvens nos céus se dissolvem

Feito arranhões que cicatrizam nos joelhos infantis

Feito água fervente em vapor?

 

Amor paixão

Como farei para que te deságües

Feito nascente do leito à maré?

Como farei para ser teu oceano

Imensidão composta de ti?

 

Paixão paixão

Que azul me invadiria agora

Guerreando voraz

contra as cores do meu grito?

E quais vermelhos venceriam unidos

as batalhas do meu sentimento

que em misto de sangue borbulham

saudades dentro do meu peito

 

Dissolvo, fervente em paixão

Azulecem voraz vozes invasoras

Venço vermelho medo

Deságuo eu em leito tranqüilo

Pálida, adormeço

Baú


Tenho um baú de tesouros


Imutáveis... amarelando de tempo e saudade

De tempos em tempos, preciso deles

E os abro, leio, abraço, lambo

Há um gosto de passado que não se descreve

Um sabor da melancolia

Que calço para novas caminhadas

Hoje, descansei minhas janelas sobre as cartas,

ontem sobre as fotos

Mais tarde detalhadamente

sobre as palavras pintadas em pauta

Repintadas na pele

De um sonho novo que desponta

E a vida se anuncia

Solar, fresca, delicada, furiosa

Rindo calma, fecho o baú

Que aguarda novas jóias

Futuras lembranças

Histórias...  

 

Coração dividido?

Tenho sonhado demais com Jesus cristo,   

É sempre o mesmo homem

Um deus africano,
uma alegoria mítica
que não me alcança
Mas de noite, enquanto durmo
É só um homem
Eu trepo com ele
Depois oramos juntos
E aí o que fazemos é amor
Rimos e bebemos
E ele fode comigo

E silencio enquanto Morfeu me afunda

pra mais um longo período de ausência
minha de mim
O dia todo esperando o curto tempo do sonho
a tal ponto de me enfeitar para dormir
Se ao menos os deuses de hoje fossem os gregos
Eu engravidaria e daria ao mundo um novo Hércules
Filho meu e de Baco
Eu sonho
Numa solidão profunda
Sonho que trepo com Jesus cristo


Será que vou me vender?

Estou começando a duvidar

Conheço as regras, eu sei jogar

Mas não quero, por favor, eu não quero

Não me obriguem a forjar-me

Não posso ser assim

Não quero vestir-me de branco

Quando há no mundo um luto escondido

O gosto da lona aos poucos passa de amargo

A rançoso

E ainda sim prefiro que não reponham a rede

No meu número de equilibrista

Não posso mentir

Não quero

Não me convençam

Que a verdade era só um artifício

Deixem que prevaleça a ingenuidade

Me deixem morrer genuína

Mesmo que em farrapos

Eutanásia


Ó Pai, porque me destes esses olhos

Que nunca se acostumarão a ver esse mundo

Olhos que choram  fome

Ó Pai, porque me destes essa voz

Que não pode cantar senão a tristeza da verdade

Há uma foto do morto no jornal Pai, e ele nem tinha ideais

Ah Pai... que tempos são esses...

Que ausência é essa entre os meus

Os ventres sentem frio, porque é assim que nos dói a solidão

Estamos voltando a ser quadrúpedes

De cansaço e medo

Vejo a  multidão de encurvados,  querendo tocar as mãos no chão

É medo Pai, medo do nada

Medo de tudo

Ah Pai porque não me fizeste burro o bastante

Não sei se posso continuar

Não há cura pra mim nesse mundo


E eu não posso dormir em paz, não assim

Há outros que não dormem Pai

De tanto barulho fora deles, como dentro de mim

Me deixaste de espectadora Pai, que queres ?

Me castigar? Porque me destes mãos tão finas Pai?

São mãos de princesa, não de combatente

Me deixaste na linha de fogo, sem que eu possa ser atingida

Como um fantasma

Não me vêem, mas morrem na minha frente

E sangram, e sofrem

E eu não posso sangrar por eles!

Não Pai, você não sabe o que é isso

Corpos murchos, almas ocas

Que mundo zumbi, que carência...

Que calma crueldade tem sido o nosso tempo

No fundo eu sei que qualquer hora

Aparece um menino com um recado teu

E ele dirá que tu não vens...

Onde


Não sei ao certo quando foi que me tornei covarde


Acredito ainda que tenha sido ao mesmo tempo


Em que adquiri o péssimo hábito da arrogância

Muitas coisas que me aconteceram ficaram perdidas

Num espaço/tempo à parte

As vezes é como se estivesse acordado de uma hibernada

Estou sono...

Lenta

E as coisas tomando seus lugares

aos poucos

Estou vendo os contornos de uma mulher bela

Me tomando as faces

E ela é velha e é bela

Estou assustada, as mudanças são bruscas

E eu perdi a metade do filme...

Onde eu estava? Será que devo me preocupar...?
Mas estou agitada, isso me deixa mais atrapalhada ainda...

Não sei ainda como funciona esse corpo em que desperto

Fica


Me obrigam a fingir sentimentos falsos

Para quanta verdade estão preparados?

O que pode ser mais justo, o disfarce ou a crueza?

em que tipo de esperança você baseia sua estrada?

Não, a verdade não é cor de rosa

Tampouco clara como manhãs de verão

Sinto muito por minha contínua necessidade de tudo

O que poderia fazer

Além de já não pedir?

Se não mais peço, creiam, não é por falta de necessidade

É por vergonha do meu excesso de carências

Por favor, não me deixem em silêncio

Falem comigo... falem... de outros... falem

Não me abandonem comigo

Por favor, fiquem

Até que eu adormeça... fiquem

Mesmo sabendo que pode ser para sempre

Por amor... fiquem

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Cortesã


Por esses dias
Eram três homens que eu via
A todos eu amaria
Todos de cachos e pele macia

Por esses dias
Pensei que a busca findaria
Nos olhos dos três a mesma euforia
Regozijavam o prazer que eu sentia

Mas passaram-se os dias
Eu cortesã aprendia
Como aprende uma gueixa
Arte da mais valia

Por fim fiz-me a dama mais honrada
Da corte a mais recatada
Um nome comprado a prazo
E o passado deixei nas coxias

sábado, 5 de janeiro de 2013

fazia versos e nao era poeta
vivia de cena mas nao atuava
morria de amor mas nao amava nada
Tomava vitaminas diariamente, dormia mal pois lhe assombravam pesadelos. Era um tanto triste e franzino. Sorria largo mas quase sempre mentindo. E sentia tanta falta, de tudo e dum tanto, que se o amor lhe arrebatasse, morreria mostrando seu primeiro sincero sorriso de canto.

Maltrapilho

e tinha tanta coisa pra fazer,
gente pra cuidar, roupa pra lavar,
livro pra ler,
que se deitou na soleira pra esperar alguem varrer