segunda-feira, 26 de setembro de 2011

panorama do apocalipse

é preciso estar só
durante essa madrugada
os ventos tão torpes
já assobiam o horror da morte

é preciso ser forte
espreitar com cautela
para que sobre a escolha
de partir por ela

o céu se fecha em tempestade
restarão sinais de humanidade
por traz da secura insana
do sólo infértil desse sertão

e haverá maremotos
derrubando os sólidos edifícios
tudo o que foi construído
antes mesmo que a dor sanasse

romperão erupções vulcânicas
de lava escarlate
onde corpos submersos
também desaparecerão

o tempo extinguirá
só um único momento
se eternizará
e não haverá mais fim

nem morte ou vida
nem noite ou dia
nem sorte, nem alegria

só a certeza da partida
que ela estará a salvo
distante dessa maldita agonia.




pequenas flores

e eu que já me acostumara a ela
às borboletas risonhas por dentro de mim
ao arredondar das formas juntas
e a completude enfim

e eu que sabia dela, da voz dela,
dos olhos dela sorrindo para mim
do mundo todo que se anunciava
do fim de tudo o que fosse ruim

e agora poeta, que o sonho acabou?
como inflar o vazio
se quedar em delírio
nunca adiantou?

se depois de sentir essa vida
voltar à inércia fosse saída
nem mesmo à tormenta
nem mesmo à saudade
do que nem se passou

não passam mais dias
por esse jardim
e não há primavera
que exista sem flores
como não cabem mais dores
no que resta de mim.






quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Falecido

a unica incerteza que me dilacera
é a dúvida de um nunca mais poder
amar novamente

o que fez a vida, com aquilo que eu mais sabia
o frio que sobe a espinha
o primeiro beijo de um novo amor real

fez-se enfim
do meu peito um samba
desses tristes de alguém que anda
jogado à dureza de um coração que não ama